Você voltaria a confiar em alguém que lhe mentiu durante tantos anos?
Alguém que você nunca duvidou, cuja veracidade de todas as estórias contadas eram assumidas sem maiores questionamentos -- e, agora, descobertas não passarem de farsas?
Voltaria a confiar em alguém que sempre lhe exigiu a verdade, acompanhada invariavelmente da explicação de se tratar de virtude das mais importantes, seja ela qual for, a quem doer e quais forem as consequências, mas que agora não parece ter muito valor, tendo em vista os anos de estórias fantasiosas contadas premeditadamente e sem sinais de remorso?
Você voltaria a confiar neste alguém.... ou mais especificamente.... em mim!... meu filho, minha filha?!
Sim... fui eu quem lhe deixei aquela bicicleta na sala, ou aquela casinha de bonecas, ou aquele patinete, ou aquele vídeo-game, ou aquele jogo de tabuleiro, ou aquele... Sim, confesso! Fui eu!... Nem vou tentar amenizar minha situação mencionando que a mamãe ajudou (não só ajudou a planejar, mas a comprar também -- vou parar por aqui; eu disse que não tentaria me isentar da responsabilidade).
Não.... não houve velhinho de barba branca... (Embora, neste aspecto, é questão de pouco tempo até que isto se torne realidade...)
Não havia ninguém entrando pela nossa varanda de madrugada... (E vocês ainda preocupados do trabalho que ele tinha para tirar e colocar a rede de proteção!)
Não havia economia nenhuma que vocês faziam ao dizer publicamente que preferiam deixar os presentes caros para "ele" e pedir outros mais em conta para os pais... (Ó, culpa minha!)
Espero que um dia, quando crescerem e terem seus próprios filhos, possam me entender. Vão saber que tudo que foi feito foi por amor a vocês (embora eu não saiba explicar muito bem onde entra o amor aí), com muita dedicação (ah, isto sim!) e com a melhor das intenções (existe uma máxima sobre a questão da "melhor das intenções"... ignorem-na).
E antes de passarem pela cabeça de vocês me perdoarem, gostaria de confessar só mais uma coisa... lembram-se daquelas pegadinhas de canetinha no chão da cozinha até o armário, onde fica cheio de chocolate em certa época do ano? Pois é...
Tocando neste assunto...
Pessoalmente, meus pais não fizeram questão que eu acreditasse nestas lendas. Nunca me passou pela cabeça querer ter tido a chance de acreditar. Por outro lado, estes dias ouvi um psicólogo dizendo na TV que em 30 anos de profissão, ninguém nunca deitou eu seu divã para resolver qualquer conflito interno deixado pela crença nestas estórias, de modo que acho que a matéria de fazer ou não os filhos acreditarem fica sob júdice de cada pai e mãe. Mas sempre que considerei a questão se eu faria o mesmo com meus filhos, a reflexão acima me ocorria.
Mesmo se porventura eu quisesse acreditar, influenciado pelas estórias que os pais de meus amigos da rua contavam, meus pais não deram a menor chance para que isto pudesse de fato ocorrer. Quando eu ganhei de Natal um ventilador, definitivamente veio a convicção de que não existia ninguém lendo minhas cartinhas deixadas no posto de coleta dos Correios da escola.
Um feliz 2017 a todos! Ho-ho-ho!
terça-feira, 27 de dezembro de 2016
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