O problema do feriado de Dia dos Pais é que ele cai sempre num domingo (por construção). Ele não poderia ter sido definido como a segunda quarta-feira do mês de agosto? Aposto que isto sim seria um presentão para os pais, que ralam a semana toda e teriam uma folguinha no meio da semana.
Tirando esta desvantagem, é um feriado super merecido. Ainda mais porque eu sou um pai. Em merecimento, a propósito, só perde para o Dia das Mães. Que meu pai me desculpe, mas isto é verdade. Na hora do vamos ver, de colocar a mão na fralda suja, de dar banho na banheira e tirar a mancha de Nescau da roupa, sobra sempre é para elas. Sem contar a amamentação, que desempata qualquer disputa acirrada. Seja como for, cada pai tem o importante papel, e às vezes desconhecido a ele próprio, de influenciar os caminhos dos filhos com seu exemplo, suas atitudes, e suas sugestões.
Quando eu era criança, meu pai chegou em casa do trabalho. Lembro de estar brincando de carrinho quando ele me abordou. Ele havia trazido uma pasta para mim. Era uma pasta de couro, elegante, de capa dura, onde dentro havia um espaço para se guardar folhas (com algumas dentro) e uma tabela de horários de aulas.
-- Esta pasta ganhei de um engenheiro lá da firma. Trouxe ela para você...
-- Oba! -- exclamei, já esticando o braço para alcançá-la.
-- Não, não vai ficar com você. Vou guardá-la e, quando crescer e for para a faculdade, lhe entrego.
Falou como se fosse coisa séria, apesar dos meus seis anos. Vi quando ele a guardou em seu guarda-roupa, debaixo da pilha com calças sociais, num dos cantos da parte de baixo do guarda-roupa.
O tempo passava e, quando eu tinha que abrir o guarda-roupa dele por algum motivo e via aquela pasta debaixo das calças, eu lembrava do que ele havia me falado.
Ele nunca mais precisou voltar a este assunto, nem insistir para que eu estudasse, ou me pressionar para que eu fosse admitido em uma universidade pública. Como de fato, nunca o fez. Aquela semente plantada numa situação cotidiana brotou em mim a vontade de tudo isso. Quando eu terminei a apresentação de defesa da minha tese de doutorado, juro que me lembrei daquela pasta. E me perguntei se ela ainda estaria debaixo das calças dele na parte de baixo do guarda-roupa pois, até hoje, ele ainda não me entregou!
Tocando neste assunto...
Coloquei esta pequena estória da pasta na seção de agradecimentos de minha tese. Quando ela finalmente ficou encadernada, meu pai, quando teve a oportunidade, deu uma folheada. E a leu.
-- Puxa! Você ainda se lembra da estória da pasta! -- disse ele, com a voz embargada.
-- Sim, pai! - respondi. Obrigado!
Feliz Dia dos Pais!
domingo, 14 de agosto de 2011
quinta-feira, 4 de agosto de 2011
Guerra de fotos
Quando eu era criança, eram raros os eventos pessoais registrados com fotos. Além das viagens de férias, havia dois que eram invariavelmente fotografados: aniversário e desfile de 7 de setembro. Aniversário é meio óbvio, mas.... desfile de 7 de setembro?! Ainda me pergunto porque meus pais se dedicavam a preparar a câmera para o dia do desfile, se não o faziam em outras ocasióes...patriotismo, talvez.
Naquela época, era tudo mais difícil e, principalmente, mais caro. Registrar os momentos na maneira e quantidade que registramos hoje era inviável. A minha esposa hoje, por exemplo, tira tanta foto que dá para fazer animação se passarmos 24 fotos por segundo. Antes, era necessário comprar filme, pilha para a máquina, depois levar o filme para revelar e, dias depois, voltar para buscar a revelação. O processo era tão chato que só víamos as minhas fotos do desfile em dezembro. Isto ainda porque meu pai tinha que desocupar a máquina para colocar o novo filme comprado para o meu aniversário (que, por sua vez, ficava até o próximo 7 de setembro). A propósito, foi assim, postergando a revelação, que meu pai deixou um filme de desfile por nada mais nada menos que quinze anos dentro da máquina, depois que a aposentou. Quando descobriu o filme dentro da máquina às traças, ele tentou revelá-lo animado com a possibilidade de ter fotos inéditas do filho ainda criança que estavam perdidas no tempo. Quando ele pediu a revelação daquele filme, certamente o atendente pensou: "Meu Deus! Máquina do tempo existe!"
E quando acontecia daquela foto, a mais esperada do conjunto, saía queimada? Era tão comum, que me lembro da brincadeira de dizer a um conhecido: "Ei, não vá aparecer na minha foto se não ela queima!", dando a entender que o dito cujo, de tão feio, faria a foto ser mal revelada por má vontade do funcionário, desmotivado de ficar olhando-a. Há algum tempo, sem querer, fiz esta brincadeira com alguém com menos de 20 anos. Recusei-me a explicar a piada.
Esta estória me veio à cabeça por um fato inusitado que ocorreu comigo semana passada. Estava eu dirigindo, o maior congestionamento, quando o cara do carro da frente começou a discutir com o carro do lado, na minha diagonal. Em dado momento, depois de muitas trocas de gentilezas (a julgar pela forma de comunicação entre eles pelas respectivas janelas abertas), um deles aproveitando de uma parada do trânsito, desceu do carro com uma coisa preta na mão. Pensei: "Ih, estou frito. Vai ter bala perdida!". Mas não houve. O camarada parou em frente ao outro carro e começou a.... tirar fotos da placa. O outro colocou a mão para fora do carro e começou a tirar fotos do primeiro. Quando este voltou ao seu carro, o segundo resolveu também descer e tirar fotos da placa do outro que, por sua vez, tirou fotos do primeiro. Pensei em me oferecer para tirar foto dos dois juntos, mas julguei que não seria apropriado. Imaginei que escutaria de algum deles: "Ei, flash na cara não! Aí já é demais!" e, num ato insano, começariam a fazer vídeos em HD um do outro. No fim, cada um voltou ao seu carro e seguimos todos viagem.
Achei engraçado esta guerra de fotos. Duvido que eles fariam isto no tempo dos filmes e revelações.
Tocando neste assunto...
Quem sabe influenciado por testemunhar este fato, hoje eu também perdi a cabeça no trânsito. Pela segunda vez em alguns meses, o carro do Google Maps entra na minha frente no tränsito e fica tirando fotos para o Google Street View, comigo andando bem atrás. Desta vez, contudo, náo deixei por menos. Contra-ataquei:
Naquela época, era tudo mais difícil e, principalmente, mais caro. Registrar os momentos na maneira e quantidade que registramos hoje era inviável. A minha esposa hoje, por exemplo, tira tanta foto que dá para fazer animação se passarmos 24 fotos por segundo. Antes, era necessário comprar filme, pilha para a máquina, depois levar o filme para revelar e, dias depois, voltar para buscar a revelação. O processo era tão chato que só víamos as minhas fotos do desfile em dezembro. Isto ainda porque meu pai tinha que desocupar a máquina para colocar o novo filme comprado para o meu aniversário (que, por sua vez, ficava até o próximo 7 de setembro). A propósito, foi assim, postergando a revelação, que meu pai deixou um filme de desfile por nada mais nada menos que quinze anos dentro da máquina, depois que a aposentou. Quando descobriu o filme dentro da máquina às traças, ele tentou revelá-lo animado com a possibilidade de ter fotos inéditas do filho ainda criança que estavam perdidas no tempo. Quando ele pediu a revelação daquele filme, certamente o atendente pensou: "Meu Deus! Máquina do tempo existe!"
E quando acontecia daquela foto, a mais esperada do conjunto, saía queimada? Era tão comum, que me lembro da brincadeira de dizer a um conhecido: "Ei, não vá aparecer na minha foto se não ela queima!", dando a entender que o dito cujo, de tão feio, faria a foto ser mal revelada por má vontade do funcionário, desmotivado de ficar olhando-a. Há algum tempo, sem querer, fiz esta brincadeira com alguém com menos de 20 anos. Recusei-me a explicar a piada.
Esta estória me veio à cabeça por um fato inusitado que ocorreu comigo semana passada. Estava eu dirigindo, o maior congestionamento, quando o cara do carro da frente começou a discutir com o carro do lado, na minha diagonal. Em dado momento, depois de muitas trocas de gentilezas (a julgar pela forma de comunicação entre eles pelas respectivas janelas abertas), um deles aproveitando de uma parada do trânsito, desceu do carro com uma coisa preta na mão. Pensei: "Ih, estou frito. Vai ter bala perdida!". Mas não houve. O camarada parou em frente ao outro carro e começou a.... tirar fotos da placa. O outro colocou a mão para fora do carro e começou a tirar fotos do primeiro. Quando este voltou ao seu carro, o segundo resolveu também descer e tirar fotos da placa do outro que, por sua vez, tirou fotos do primeiro. Pensei em me oferecer para tirar foto dos dois juntos, mas julguei que não seria apropriado. Imaginei que escutaria de algum deles: "Ei, flash na cara não! Aí já é demais!" e, num ato insano, começariam a fazer vídeos em HD um do outro. No fim, cada um voltou ao seu carro e seguimos todos viagem.
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