quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Guerra de fotos

Quando eu era criança, eram raros os eventos pessoais registrados com fotos. Além das viagens de férias, havia dois que eram invariavelmente fotografados: aniversário e desfile de 7 de setembro. Aniversário é meio óbvio, mas.... desfile de 7 de setembro?! Ainda me pergunto porque meus pais se dedicavam a preparar a câmera para o dia do desfile, se não o faziam em outras ocasióes...patriotismo, talvez.

Naquela época, era tudo mais difícil e, principalmente, mais caro. Registrar os momentos na maneira e quantidade que registramos hoje era inviável. A minha esposa hoje, por exemplo, tira tanta foto que dá para fazer animação se passarmos 24 fotos por segundo. Antes, era necessário comprar filme, pilha para a máquina, depois levar o filme para revelar e, dias depois, voltar para buscar a revelação. O processo era tão chato que só víamos as minhas fotos do desfile em dezembro. Isto ainda porque meu pai tinha que desocupar a máquina para colocar o novo filme comprado para o meu aniversário (que, por sua vez, ficava até o próximo 7 de setembro). A propósito, foi assim, postergando a revelação, que meu pai deixou um filme de desfile por nada mais nada menos que quinze anos dentro da máquina, depois que a aposentou. Quando descobriu o filme dentro da máquina às traças, ele tentou revelá-lo animado com a possibilidade de ter fotos inéditas do filho ainda criança que estavam perdidas no tempo. Quando ele pediu a revelação daquele filme, certamente o atendente pensou: "Meu Deus! Máquina do tempo existe!"

E quando acontecia daquela foto, a mais esperada do conjunto, saía queimada? Era tão comum, que me lembro da brincadeira de dizer a um conhecido: "Ei, não vá aparecer na minha foto se não ela queima!", dando a entender que o dito cujo, de tão feio, faria a foto ser mal revelada por má vontade do funcionário, desmotivado de ficar olhando-a. Há algum tempo, sem querer, fiz esta brincadeira com alguém com menos de 20 anos. Recusei-me a explicar a piada.

Esta estória me veio à cabeça por um fato inusitado que ocorreu comigo semana passada. Estava eu dirigindo, o maior congestionamento, quando o cara do carro da frente começou a discutir com o carro do lado, na minha diagonal. Em dado momento, depois de muitas trocas de gentilezas (a julgar pela forma de comunicação entre eles pelas respectivas janelas abertas), um deles aproveitando de uma parada do trânsito, desceu do carro com uma coisa preta na mão. Pensei: "Ih, estou frito. Vai ter bala perdida!". Mas não houve. O camarada parou em frente ao outro carro e começou a.... tirar fotos da placa. O outro colocou a mão para fora do carro e começou a tirar fotos do primeiro. Quando este voltou ao seu carro, o segundo resolveu também descer e tirar fotos da placa do outro que, por sua vez, tirou fotos do primeiro. Pensei em me oferecer para tirar foto dos dois juntos, mas julguei que não seria apropriado. Imaginei que escutaria de algum deles: "Ei, flash na cara não! Aí já é demais!" e, num ato insano, começariam a fazer vídeos em HD um do outro. No fim, cada um voltou ao seu carro e seguimos todos viagem.

Achei engraçado esta guerra de fotos. Duvido que eles fariam isto no tempo dos filmes e revelações.

Tocando neste assunto...

Quem sabe influenciado por testemunhar este fato, hoje eu também perdi a cabeça no trânsito. Pela segunda vez em alguns meses, o carro do Google Maps entra na minha frente no tränsito e fica tirando fotos para o Google Street View, comigo andando bem atrás. Desta vez, contudo, náo deixei por menos. Contra-ataquei:

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Quando eu era criança, eu achava que o mundo era perfeito. Não que eu tivesse nascido em berço de ouro, muito pelo contrário. E nem que eu t...