Hoje a minha esposa me enviou um e-mail. Achei que seria para me lembrar que ainda não troquei a lâmpada da cozinha que queimou há uma semana. (Hoje, saí de mansinho para evitar dela se lembrar e me fazer trocá-la, justo hoje que eu tinha que passar em mil lugares antes de ir para o trabalho. Por isso, estava esperando um e-mail sobre o assunto.) Mas o conteúdo da mensagem foi diferente. Ela dizia que o umbigo do nosso filho havia caído.
Sim, acabamos de ter mais um filho! Não sei por que, mas os pais tem umas preocupações esquisitas com os filhos pequenos. Por exemplo, quando o umbigo vai cair. Ou se o filho vai engasgar com leite. Ou acordar de madrugada e verificar se ele está respirando -- como se eles pudessem fazer alguma coisa em qualquer um destes casos. Por exemplo, eu nunca vi alguém dizer que teve que ir no hospital ou passou o maior perrengue porque o umbigo não caiu. Alguém que não nunca toma banho de piscina e depois confidencia ao seu melhor amigo: "Cara, não conte a ninguém, mas eu não gosto de piscina por um motivo... o meu umbigo nunca caiu! Veja só a tripa para fora da barriga!". Mas mesmo assim, confesso que fiquei aliviado com a notícia.
Falta mencionar um detalhe sobre o e-mail. Eu estava apenas copiado no correio. Ele teve como destinatário principal uma outra pessoa: o nosso filho, o tal que acaba de nascer. Sim, ele já ganhou uma conta que já deve ter uma dúzia de mensagens. A ideia de criar uma conta para eles surgiu logo que nossa primeira filha nasceu. A propósito, sempre achei que naquela pulseirinha da maternidade, com o nome do bebê e da mãe, já deveria vir um e-mail vitalício: fulaninho.da.silva@cidadao.gov.br. Mas dado que as coisas ainda não são assim, também abrimos uma conta para ela e, desde então, ela já recebeu centenas de e-mails, entre piadas até advertências sobre o comportamento. Ela tem três anos e, portanto, ainda não leu nenhuma das mensagem. Mas poderá ter a chance de acompanhar em retrospectiva o estado de espírito da família em cada momento desde que nasceu -- isso se o Google não desativar a conta dela por inatividade.
Antes de apagar a mensagem, respondi à minha esposa: "Hei, você esqueceu de copiar a nossa filha...". Ela encaminhou a mensagem novamente, desta vez a copiando. Não quero que em 2016, preparando-me para ir a algum ginásio para acompanhar os jogos olímpicos que ocorrerão no Rio, nossa filha dê um piti antes de sairmos porque a mãe trocou e-mail com o pai e o irmão em 2011 sobre a queda do umbigo e ela ficou de fora. Melhor prevenir do que remediar.
Tocando neste assunto...
Durante a faculdade, estava eu conversando com um professor na saída de uma aula. Um sujeito se aproximou e, com toda educação, interrompeu nossa conversa. Era alguém que, pelas saudações e a surpresa do reencontro, conhecia o meu professor desde muito tempo.
-- Mas e aí rapaz, o que fez da vida? Casou? -- perguntou ele ao meu professor.
-- Sim, casei... três filhos, e você?!
-- Uaaau! Três filhos?! Eu casei, mas não temos filhos e nem queremos ter!
De certa forma, senti que a declaração chocou o meu professor.
-- Mas por que não?
-- Ora -- justificou ele, com convicção absoluta do que falava, como se já tivesse pensado no caso por muito tempo -- sabe quanto custa educar um filho até os 24 anos, supondo que ele fique mesmo independente financeiramente aos 24 anos (cada vez mais difícil)? Deve contar jardim de infância, escola, natação, judô, escola de música, curso de inglês e espanhol, plano de saúde, roupa, comida, cinema, médico e por aí vai...
Meu professor franziu a testa.
-- Hmmm.... não sei... nunca pensei nisso.... você já?
-- Sim... está tudo numa planilha Excel que tenho. Sendo conservador, e levando-se em conta um rendimento de 0,5% mensais se o gasto fosse aplicado, totalizaria um milhão de reais por filho. E isso por baixo! E então, estou muito errado de pensar assim?!
O meu professor ficou pensativo. Talvez por nunca ter se dado conta de argumento semelhante a este, enquanto o seu amigo exibia um sorriso triunfante. Contudo, este seu sorriso deu lugar a uma tremenda cara de surpresa quando ele ouviu a resposta, contendo um argumento que ele, por sua vez, nunca tinha se dado conta:
-- Rapaz, então eu estou levando muita vantagem.... cada filho meu nem chegou ainda aos 24 anos e já valem para mim, cada um, mais do que um milhão.
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