Não há palavras para lamentar o caso. Se há, eu as desconheço. Só desejo que a família se recupere logo e que a felicidade não se ofusque. Ele não iria querer isso.
Tocando neste assunto...
Hoje organizando a estante do escritório, deparei-me com um livro que tomei emprestado há (contando mentalmente agora quanto tempo faz, espanto:) doze anos e que nunca devolvi. Vergonha dupla. Não somente pelo ato em si, como pela impossibilidade de fazê-lo agora, pois o livro em questão era do meu amigo que nos deixou.
A vergonha foi imensa. Mas a sensação de vergonha gradualmente se transformou em algo bom: a constatação de quanto meu amigo foi generoso de deixá-lo comigo por tanto tempo. Se reclamou de mim por tal fato, o fez merecidamente. Se ele a partir de algum tempo assumiu que o empréstimo virou presente, quero compartilhar que o presente foi bem-vindo: de vez em quando agora, vou me lembrar da pessoa bem-humorada e disposta para a vida que ele foi ao passar o olho pela capa deste livro, procurando alguma coisa na estante do escritório.
Eu costumava a reclamar de quem pegava um livro meu emprestado e não devolvia. Nunca mais faço isso. Aliás, pelo contrário: se você tem um livro meu com você, pode ficar com ele.