quarta-feira, 30 de março de 2011

Diga-me com quem andas e te direi se vou contigo

As estatísticas mostram que mais de 50% dos casais se conheceram no ambiente do trabalho ou na escola. Este fato comprova (ou, no mínimo, sugere) que o meio tem forte influência nas nossas escolhas. Logo, deveríamos procurar companhia não necessariamente onde gostamos de estar, mas mais precisamente onde gostaríamos que nossas almas gêmeas estivessem. Gostaria de se encantar por uma bailarina? Faça aulas de balé, mesmo que tenha que esconder o fato dos seus amigos. Gostaria de encontrar uma "sarada"? Entre para a academia (de ginástica, de ciências só piora a situação). O seu desejo é se envolver com alguém que goste das mesmas coisas que você? Bom, neste caso, só faça da vida aquilo que goste. Nem vá ao dentista para não fugir a esta regra. Quando menos se espera, o cupido aparece. Nestas horas, é melhor que esteja no local certo, com a pessoa certa.

Vamos a um exemplo aplicado. Se você não gosta de carnaval (ou melhor, não deseja que ela gostasse), como a teoria acima poderia ajudar? Raciocinemos: se você fosse uma garota que não gostasse de agitação, onde estaria na época de carnaval? Uma opção de alta probabilidade, por exemplo, é uma locadora de filmes. E é lá que você deve estar. Esta estratégia é bem mais eficiente do que aquela baseada no tradicional tacape na cabeça introduzida pelos nossos ancestrais primitivos. Muito embora, devo reconhecer, esta última requeira menos esforço de planejamento e possua resultados mais imediatos, por assim dizer.

Tocando neste assunto...

Neste carnaval, por acaso estive na locadora. Descobri que a comemoração deste feriado, mesmo na cidade do Rio, não é assim, digamos, tão universal. Não havia quase nenhum filme disponível, e "E o Vento Levou" e "Tudo por uma Esmeralda" eu já tinha visto. Notando que muitas pessoas ficavam perambulando por entre as prateleiras como que à espera de um filme brotar de alguma delas, um funcionário da locadora veio repondo alguns filmes que haviam sido retornados. Ficamos todos na expectativa de aparecer um filme bacana. Parecíamos pombos sendo alimentados com milho. Após algum tempo, finalmente apareceu algo que eu gostasse, logo do meu lado. Neste momento, eis que surge uma garota, pula na frente e retira o filme, quase que me dando um chega-para-lá. Só faltou dar um tapa na minha mão. Virou-se, encaminhou-se ao caixa, e entrou na fila, como se nada tivesse acontecido.

Dada a implicação de minha teoria, a saber de que as pessoas numa locadora na época de carnaval possuem perfis semelhantes, devo acreditar que eu sou mesmo um cretino.

segunda-feira, 21 de março de 2011

Será que a toda pergunta (inclusive esta) cabe uma resposta?

Existem perguntas para as quais realmente não há respostas. Todas as respostas candidatas são ruins. E não é por incompetência daquele que responde: a pergunta realmente não admite uma resposta satisfatória. Isso é bem conhecido desde os tempos antigos e preocupavam particularmente os filósofos gregos.

Um exemplo desta classe de perguntas são aquelas nas quais se emprega a auto-referência (sentenças que afirmam algo sobre si mesmas). Analise o que responderia se alguém lhe perguntasse "Esta sentença é falsa. Verdadeiro ou falso?"

Vejamos: Se "Verdadeiro", você concorda com a afirmação, isto é, responde que a sentença é falsa. Como a sentença justamente afirma que ela é falsa, e você diz que ela é falsa, então a sentença só pode ser verdadeira. Mas a sentença não pode ser verdadeira, pois ela afirma que ela é falsa! Logo, esta resposta não é aceitável.

Se "Falso", você discorda da afirmação, isto é, responde que a sentença é verdadeira. Novamente, se ela é verdadeira o que ela diz é verdade, ou seja, aquela sentença é falsa. Também não serve.

É estranho, mas existem perguntas dentro da própria Matemática que simplesmente não admitem resposta. Os matemáticos sabem disto, mas escondem o jogo. Da próxima vez que um matemático contar vantagem, pergunte a ele: "Tudo bem engraçadinho, se a Matemática é assim tão completa e perfeita, o que me diz dos problemas indecidíveis, dos paradoxos de Zenão, e do teorema da incompletude de Gödel?". Tome só o cuidado para ele não estar comendo nada nesta hora, pois há risco dele se engasgar. Você acabou de pegar pesado -- era melhor ter falado da mãe dele.

Tocando neste assunto...

Eu já comentei este exemplo uma vez e ouvi de volta que o exemplo parecia muito artificial, longe das perguntas do cotidiano. Na opinião de meu interlocutor, para as perguntas do cotidiano sempre há respostas certas e respostas erradas. Realmente, não consegui achar um exemplo de problema "menos matemático" deste tipo. Até ontem, quando fui na farmácia com minha filha.

O caixa estava demorando a atender o cara logo na minha frente. Em cinco minutos, havia uma fila enorme atrás de mim. Todo mundo impaciente. Imaginem minha filha de três anos.

Eu já tinha corrido atrás dela a loja toda, respondido a ela o que cada medicamento que ela apontava fazia, contado a estória do soldado de chumbo. Todos os recursos estavam esgotados. Ela começou a procurar coisa para fazer, quando se deparou com um cartaz grande da Gisele Bündchen, fazendo propaganda de algum cosmético. Ela olhou a moça algum tempo, virou para mim e perguntou:

-- Papai, olha só esta moça... parece a mamãe, não é?

Silêncio na fila. Aqueles que ainda conversavam baixinho interromperam o papo segundos depois, como se só naquele momento houvessem lhe caído a ficha de que a resposta a esta pergunta era mais interessante que o assunto que estava em andamento. Ao articular a resposta, percebi que a minha filha encontrou o exemplo que eu procurava. Neste momento, por um milagre, o caixa liberou e chegou a minha vez de ser atendido.

terça-feira, 15 de março de 2011

Boa viagem para você também!

Clássico: estou me despedindo de algum conhecido, que está sabendo que viajarei nos próximos dias. Como não espera me encontrar novamente, é certo que ocorra o seguinte diálogo:

-- Boa viagem! - diz meu amigo.

Ao que eu respondo, sem pestanejar:

-- Boa viagem para você também!

Ele não irá a lugar algum, respondi no automático, eu é que estou de viagem. Desta forma, viajo também no sentido figurado.

Eu já cheguei a desejar parabéns de volta a quem me cumprimentou pelo meu aniversário. Torço para que um dos cenários a seguir tenha sido o caso: (i) falei embolado e a pessoa não entendeu; (ii) era realmente aniversário da pessoa (0,27% de probabilidade, supondo que a data de nascimento dos meus amigos se distribuam uniformemente ao longo do ano, o que não é verdade se a astrologia estiver correta -- mas acho que não está). Neste caso, eu até que mandei bem.

Existem situações nas quais a percepção da gafe é menos notável. Quando, por exemplo, estou saindo do trabalho e o segurança me cumprimenta, eu usualmente respondo: "Boa noite, bom descanso para você também!". Ele continuará trabalhando, eu é que estou indo embora.

Mas enfim. O que vale é a intenção de retribuir coisas boas a quem lhe deseja coisas boas. Mesmo que elas não façam muito sentido.

Tocando neste assunto...

A este fenômeno, descobri que ele tem o nome de "desejo reflexo". É o ato de retribuir o desejo de alguém praticamente de maneira involuntária, similar ao que ocorre no arco reflexo. E cuidado caso não tenha gostado desta postagem: ele vale tanto para os desejos positivos, quanto negativos. Em outras palavras: para você também!

PS: Não acredito que você googlou (ou estava pensando em) para saber se existe mesmo "desejo reflexo".

quinta-feira, 10 de março de 2011

A vida como ela é

A simplicidade está permeada no mundo em que vivemos. E nós sempre procuramos por algo mais complexo do que o necessário, por mais exemplos desta equivocada troca que existam por aí. Existe um número infinito de exemplos. (Vejam eu complicando: para que dizer "um número infinito", se "vários" estaria de bom tamanho e evitaria aqueles ligados à área de exatas se questionarem se poderia mesmo haver, ao menos em teoria, um conjunto infinito deles).

Dentro da investigação criminal, sabe-se que, entre todas as explicações para um assassinato, a tese mais simples, em geral, é a verdadeira. Não foi o marido da empregada da namorada do filho daquele milionário que, por ter ouvido falar que o velhinho guardava muito dinheiro em sua residência, acabou tirando-lhe a vida ao tentar invadir sua mansão. Foi simplesmente o mordomo que se vingou por uma desfeita do patrão. Simples assim. E todos precisam ir até o fim do livro ou filme para descobrir que o mordomo é o culpado.

A minha área de trabalho é dentro da Matemática (em verdade, dentro da Computação também... não é simples definir qual delas -- complexo, não?) e, nesta área, é quase sempre verdade que todo teorema complicado, cheio de casos, cheio de "poréns", cheio de lemas, corolários, proposições e observações, deve estar errado. Os teoremas corretos são, comparados com aqueles concorrentes incorretos, os mais simples. É um bom exemplo de como é difícil enxergar a simplicidade da vida.

Nelson Rodrigues disse que "a vida é como ela é". Pode haver filosofia mais simples do que esta? No entanto, a frase ficou famosa e ganhou até mini-série na TV. Mais um exemplo de como a simplicidade faz sucesso em meio aos complicados.

Tocando neste assunto...

Hoje a minha filha me perguntou:

-- Papai, porque a pedra não come papá?

Puxa, como explicar?

-- Filha, deixa o papai te explicar... a pedra não é um ser vivo (ser vivo?? -- senti necessidade de elaborar mais). Os seres vivos são aqueles que se mexem (uma pedra lançada não se mexe? -- não podia deixar margem para outros questionamentos), pensam (como saber que uma pedra não pensa? -- precisava caracterizar melhor), crescem e tem filhinhos (ahh! Lembrei-me da aula de biologia neste ponto: um ser vivo é aquele que nasce, cresce, reproduz e morre. Deixei o 'morre' de lado por motivos óbvios). A pedra não faz nada disso! Entendeu?

Com a presunção de estar correta que a criançada de hoje possui, ela me respondeu quase no tom de uma bronca:

-- Não papai! A pedra não come porque ela não tem boca!

Pronto! Era isto! Simples, não?



quarta-feira, 2 de março de 2011

Na morte é que se entende a vida

Estes dias eu vi o Tropa de Elite 2. Eu sei, todo mundo já deve ter visto. Com criança pequena, as idas ao cinema são muito menos freqüentes (exceto para animações). Por isso, até agora eu não tinha assistido. Aliás, aqui vai a minha sugestão a BlockBuster: façam campanhas de incentivo a natalidade. Aposto que o combate a pirataria ficará para segundo plano.

Logo no início do filme -- talvez na primeira frase do Capitão Nascimento -- este chavão do título aparece. Achei interessante o mesmo e ele logo me lembrou uma interessante (embora desagradável) experiência que me ocorreu anos atrás.

Devido a um problema de saúde, me submeti a uma pequena cirurgia naquele ano. O problema foi que a cirurgia deu uma complicação que me levou a UTI. Não foi nada muito sério, mas como o problema decorreu de uma complicação de um procedimento, descobri que nestas horas eles tem mais cuidado com você do que se você aparece no hospital já com o problema. Sendo assim, fiquei em UTI até que o problema fosse resolvido - o que felizmente (e, ao mesmo tempo, infelizmente) ocorreu 2 semanas depois. Feita a descrição da experiência desagradável, me atenho a um fato que testemunhei.

Como eu disse, não estava tão mal assim. Mas o restante dos meus "colegas" estavam. Em particular, uma senhora que estava do meu lado. Eu entrei lá, saí de lá, e ela parecia na mesma. Chamou à minha atenção o fato de que todo dia, no horário de visita, poucas pessoas a visitavam. Em geral, ela nem estava acordada para interagir com seus entes. Aqueles que apareciam por lá não pareciam estar esperançosos em sua recuperação. Uns atendiam celular, conversavam normalmente, ficavam longe da cama. A única exceção era uma garota, de uns 15 anos, que ficava o tempo todo sentada numa cadeira, ao lado da cama, segurando a mão dela.

Durante a noite, o bicho pega na UTI. É hora dos procedimentos médicos entrarem em ação. Muitos procedimentos são dolorosos, incômodos, e por isso até aqueles que costumam ficar o dia todo dormindo começam a falar - para reclamar (talvez seja por isso que, durante o dia, eles fiquem dormindo). Quem olhava aquela senhora durante a visita, por exemplo, não imaginava que ela xingava todas as enfermeiras que tentavam tirar o seu sangue. E de tudo quanto é jeito e nome. Elas tinham uma enorme paciência. A propósito, nas circustâncias em que a senhora se encontrava, era perfeitamente explicável a atitude, até mesmo pelo efeito adverso de muitos medicamentos -- como as próprias enfermeiras me explicaram quando viram meus olhos arregalados dada a minha inexperiência de passar por ali (além disso, eu era o único que ficava acordado o tempo todo; não tinha para quem mais explicar).

Em meio às agressões verbais, ela geralmente chamava por uma conhecida: "Bianca!... Bianca!...". As enfermeiras, tentando puxar papo, perguntavam quem era Bianca. Mas ela nem tinha condições de responder.

Comecei a suspeitar que Bianca era aquela garota, que lá estava todo dia, visivelmente preocupada com sua (quem sabe) avó. Se fosse, achava uma tremenda injustiça se, no caso de sua avó partir, a neta não ficasse sabendo do carinho mútuo que sua avó sentia. Na próxima visita, não me contive:

-- Ei, garota!...

Surpresa dela, claro... o que o cara da cama do lado quer comigo?

-- Por acaso seu nome é Bianca?

-- Sim!... - surpresa aumentada -- por quê?

Quando eu disse que nos momentos de delírio era o nome dela que sua avó chamava, ela se emocionou. Ficou meio sem palavras, meio sem rumo. Confessou que realmente eram muito próximas. Depois de um tempo, ela se voltou para mim e perguntou:

-- Posso te fazer uma pergunta?

-- Claro...

-- Ela falou palavrão?!?

Eu sabia. A senhora era mesmo desbocada. Não tinha nada de efeito de remédios. A Bianca morreu de vergonha pela avó quando eu lhe respondi à pergunta.

Gosto de pensar que a avó dela tenha se recuperado e voltado para a casa. Quem sabe a Bianca não esteja agora visitando sua avó, mas em casa desta vez. Ou quem sabe aquela senhora não esteja falando uns palavrões, mas desta vez por prometerem a entrega de sua geladeira nova que nunca acontece. Enfim, que ela esteja por aí ainda.

Tocando neste assunto...

O filme Tropa de Elite 2 é muito bom. No final, assim como quero imaginar que seja o caso da senhora, o Capitão Nascimento sobrevive. (Ops! Espero que vocês já tenham visto o filme!)

O mundo era perfeito

Quando eu era criança, eu achava que o mundo era perfeito. Não que eu tivesse nascido em berço de ouro, muito pelo contrário. E nem que eu t...