Estes dias eu vi o Tropa de Elite 2. Eu sei, todo mundo já deve ter visto. Com criança pequena, as idas ao cinema são muito menos freqüentes (exceto para animações). Por isso, até agora eu não tinha assistido. Aliás, aqui vai a minha sugestão a BlockBuster: façam campanhas de incentivo a natalidade. Aposto que o combate a pirataria ficará para segundo plano.
Logo no início do filme -- talvez na primeira frase do Capitão Nascimento -- este chavão do título aparece. Achei interessante o mesmo e ele logo me lembrou uma interessante (embora desagradável) experiência que me ocorreu anos atrás.
Devido a um problema de saúde, me submeti a uma pequena cirurgia naquele ano. O problema foi que a cirurgia deu uma complicação que me levou a UTI. Não foi nada muito sério, mas como o problema decorreu de uma complicação de um procedimento, descobri que nestas horas eles tem mais cuidado com você do que se você aparece no hospital já com o problema. Sendo assim, fiquei em UTI até que o problema fosse resolvido - o que felizmente (e, ao mesmo tempo, infelizmente) ocorreu 2 semanas depois. Feita a descrição da experiência desagradável, me atenho a um fato que testemunhei.
Como eu disse, não estava tão mal assim. Mas o restante dos meus "colegas" estavam. Em particular, uma senhora que estava do meu lado. Eu entrei lá, saí de lá, e ela parecia na mesma. Chamou à minha atenção o fato de que todo dia, no horário de visita, poucas pessoas a visitavam. Em geral, ela nem estava acordada para interagir com seus entes. Aqueles que apareciam por lá não pareciam estar esperançosos em sua recuperação. Uns atendiam celular, conversavam normalmente, ficavam longe da cama. A única exceção era uma garota, de uns 15 anos, que ficava o tempo todo sentada numa cadeira, ao lado da cama, segurando a mão dela.
Durante a noite, o bicho pega na UTI. É hora dos procedimentos médicos entrarem em ação. Muitos procedimentos são dolorosos, incômodos, e por isso até aqueles que costumam ficar o dia todo dormindo começam a falar - para reclamar (talvez seja por isso que, durante o dia, eles fiquem dormindo). Quem olhava aquela senhora durante a visita, por exemplo, não imaginava que ela xingava todas as enfermeiras que tentavam tirar o seu sangue. E de tudo quanto é jeito e nome. Elas tinham uma enorme paciência. A propósito, nas circustâncias em que a senhora se encontrava, era perfeitamente explicável a atitude, até mesmo pelo efeito adverso de muitos medicamentos -- como as próprias enfermeiras me explicaram quando viram meus olhos arregalados dada a minha inexperiência de passar por ali (além disso, eu era o único que ficava acordado o tempo todo; não tinha para quem mais explicar).
Em meio às agressões verbais, ela geralmente chamava por uma conhecida: "Bianca!... Bianca!...". As enfermeiras, tentando puxar papo, perguntavam quem era Bianca. Mas ela nem tinha condições de responder.
Comecei a suspeitar que Bianca era aquela garota, que lá estava todo dia, visivelmente preocupada com sua (quem sabe) avó. Se fosse, achava uma tremenda injustiça se, no caso de sua avó partir, a neta não ficasse sabendo do carinho mútuo que sua avó sentia. Na próxima visita, não me contive:
-- Ei, garota!...
Surpresa dela, claro... o que o cara da cama do lado quer comigo?
-- Por acaso seu nome é Bianca?
-- Sim!... - surpresa aumentada -- por quê?
Quando eu disse que nos momentos de delírio era o nome dela que sua avó chamava, ela se emocionou. Ficou meio sem palavras, meio sem rumo. Confessou que realmente eram muito próximas. Depois de um tempo, ela se voltou para mim e perguntou:
-- Posso te fazer uma pergunta?
-- Claro...
-- Ela falou palavrão?!?
Eu sabia. A senhora era mesmo desbocada. Não tinha nada de efeito de remédios. A Bianca morreu de vergonha pela avó quando eu lhe respondi à pergunta.
Gosto de pensar que a avó dela tenha se recuperado e voltado para a casa. Quem sabe a Bianca não esteja agora visitando sua avó, mas em casa desta vez. Ou quem sabe aquela senhora não esteja falando uns palavrões, mas desta vez por prometerem a entrega de sua geladeira nova que nunca acontece. Enfim, que ela esteja por aí ainda.
Tocando neste assunto...
O filme Tropa de Elite 2 é muito bom. No final, assim como quero imaginar que seja o caso da senhora, o Capitão Nascimento sobrevive. (Ops! Espero que vocês já tenham visto o filme!)
O mundo era perfeito
Quando eu era criança, eu achava que o mundo era perfeito. Não que eu tivesse nascido em berço de ouro, muito pelo contrário. E nem que eu t...
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