sábado, 27 de novembro de 2010

O que eu queria ser quando crescesse...

Estava ouvindo um adolescente reclamar que era muito novo para decidir o que queria fazer da vida... Sei que esta apreensão é geral, mas no meu caso foi diferente. Eu sempre tive a certeza do que eu queria ser quando crescesse. O que ocorreu comigo foi que esta certeza esteve sempre em processo de transformação.

Não, eu nunca quis ser bombeiro. Nem policial. Nem vaqueiro. Não quis ser jogador de futebol. A primeira coisa que me lembro que quis ser foi médico. Sonhei em ser um grande cirugião, talvez um neuro-cirurgião de prestígio! Esta fase durou pouco. Andando de bicicleta, fui atropelado e passei um tempo no hospital e depois em casa, me recuperando. Tive que parar de ir na escola aquele ano. Achei este negócio de hospital meio cruel -- imagine parar uma criança de seis anos na cama -- e logo me interessei por alguma coisa mais segura. Comecei a querer ser...

... um advogado! Eu adorava assistir aqueles filmes que se concentravam quase todo na sala de julgamento, onde um advogado lutava bravamente em sua retórica, tentando desesperada e habilmente provar a inocência do seu cliente ou a culpa do mal-feitor. Este objetivo quase sempre beirava o impossível, pois todas as circustâncias estavam contra a verdade. Isto durou algum tempo, até que eu vi um filme no qual o bandido que foi preso, depois de cumprir sua pena, passou o filme todo atrás do advogado para matá-lo por vingança. Não sei porque mas, de repente, desinteressei-me pela profissão.

Estava na época do ginário e comecei a adquirir um gosto especial pela matemática. Comecei a devorar os livros de matemática. Estudava sozinho, adiantava a matéria. Do outro ano, inclusive. Ao fim da sexta série, tinha terminado a matemática da oitava. Ao final da oitava, tinha estudado aquela do segundo grau. Não tive dúvidas, matemático era a profissão certa! Isso durou todo o ginário, até que um primo meu, querendo se desfazer do seu computador primitivo e comprar um que o atendia melhor, me emprestou seu Hotbit...



Lembro-me como se fosse na semana passada (não poderia dizer "como se fosse ontem", afinal, isto foi há vinte anos... tive que situar esta lembrança vívida num tempo mais atrás): quando eu consegui controlar a imagem da TV de casa plotando um monte de retângulos coloridos na sua tela com o bichinho aí de cima, pensei... "Uau! Se eu conseguir ganhar dinheiro com isso um dia, é isso que quero fazer!". Bem, eu nunca consegui realmente ganhar dinheiro plotando retângulos em lugar algum, mas digamos que a coisa funcionou mais ou menos bem.

Primeiro, fiz o curso de PD (apelido carinhoso para Processamento de Dados). Depois, veio a faculdade em Ciência da Computação. Aí veio o mestrado, o doutorado... Final feliz.

Tocando neste assunto...

O tema da dissertação de mestrado foi sobre interseção de triângulos. Isto não lhe parece bem próximo da motivação inicial (plotagem de retângulos na TV)? Em verdade, a diferença nos temas propriamente ditos é colossal, mas no nome, podemos dizer que realizei meu sonho de infância.

Conclusão? Está na hora de trocar de novo o que quero ser quando crescer... alguma sugestão?!

sábado, 20 de novembro de 2010

Envelheci dois anos em um!

Novembro quase acabando, os enfeites de Natal começando a aparecer, as atividades extra-curriculares em ritmo de desfecho... quando isto acontece, já sei: meu aniversário está chegando.

Sempre foi assim. Na escola, ficava torcendo para as aulas se estenderem por dezembro para que eu passasse o dia em companhia dos amigos da escola, receber os parabéns deles, etc, mas sempre entrávamos de férias antes. Sempre torcia para ganhar dos parentes um presente de aniversário e outro de Natal, mas nada:

-- Olha, este fica de aniversário e Natal, tudo bem meu filho?

Será que quem faz isto realmente espera compreensão? Ou é apenas para humilhar o sujeito que não teve a sorte de nascer em março e receber todos os presentes a que tem direito pela convenção social?

O fato é que envelheci dois anos neste ano. Eu podia jurar que eu tinha trinta anos. Cheguei a afirmar isso em algumas ocasiões, preencher alguns formulários que me pediam a idade. Mas fazendo as contas agora, motivado pelo aniversário chegando, percebo que farei na realidade trinta e dois! Fiquei profundamente desapontado. Por pensar que estava com trinta, e agora sabendo que farei trinta e dois, sinto como se tivessem me roubado um ano. Pior do que envelhecer dois anos em um e receber um só presente de aniversário e Natal, é não receber os presentes do ano que se perdeu!

Tocando neste assunto...

Mas por que razão alguém esquece a própria idade?! Não seria a idade um dado tão fundamental, assim como o peso e a senha do banco, que alguém sempre a tem na ponta da língua?! Bem, no meu caso, não foi. Estou investigando diversas teorias para o ocorrido. Entre elas:

1) à medida que o tempo passa, ninguém passa a se interessar pela sua idade. Ao invés dela, perguntam o ano de nascimento. Apesar da equivalência entre as duas informações, a idade passa a não ser explícita e isto pode ocorrer se a atenção falhar;

2) Ninguém lembrou do meu aniversário ano passado. Nem eu;

3) Fui abduzido por uma nave espacial que viajou perto da velocidade da luz por aproximadamente um ano. Neste caso, pela relatividade, meu tempo cronológico se defasou em relação aos demais de um ano. Esta teoria para ser válida, necessita da condição de que ninguém percebeu minha ausência neste tempo, já que para mim o tempo esteve praticamente parado. A hipótese de número dois já me parecia deprimente, mas prefiro acreditar nela agora.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Para que ler o manual?

Toda vez que conto que, antes de comprar um eletrônico, eu baixo o PDF do manual e o leio, as pessoas me perguntam para quê eu faço isso.

-- Ora, para saber se as funções do aparelho me atendem antes de comprar!

A princípio, esta explicação soa como uma piada. Mas como eu não rio junto, elas percebem que eu falo sério. E que o meu caso é grave. Às vezes, elas ainda tentam me persuadir:

-- Mas não seria melhor perguntar ao vendedor?

E desde quando vendedor sabe o que está vendendo? Ele só sabe em quantas vezes dá para parcelar, o preço, e que o produto é muito bom! Pena que, para certas coisas, não há documentação disponível e aí eu tenho que interagir com vendedores. Estes dias, fui numa mercearia perto da casa da minha sogra e perguntei se eles tinham leite longa vida. A resposta foi:

-- Não senhor, aqui a gente só trabalha com o Barra Mansa e o Parmalat.

Tocando neste assunto...

Parte da culpa da prática de não-leitura do manual é devida aos próprios fabricantes. Veja um exemplo: esta semana a resistência do chuveiro lá de casa queimou. Peguei a minha caixa de manuais, achei o do chuveiro e anotei qual era a resistência apropriada para ele. Ao chegar na loja de ferragens, perguntei:

-- Por favor, você tem a resistência da ducha Lorenzetti, 055-M?

Longo silêncio. A senhora que me atendia ficou me olhando, meio desconfiada. Seria uma pegadinha? De que planeta eu teria vindo? -- ela devia estar pensando. Resolveu me dar credibilidade, chamou o garoto que cuidava do estoque, expert no assunto.

-- Jorge, o rapaz está querendo a resistência da ducha Lorenzetti, 055-M, a gente tem?!

-- Ah, é a comum. Pega a resistência comum da Lorenzetti.

Quando ela chegou na minha mão, conferi, e ela era mesmo: a 055-M. Nesta hora, eu realmente me achei um alienígena. Se era para ser a comum, não podia colocar isso no manual? Tinha que fazer a gente pedir pelo código? Quem leu, e como eu pediu pelo código, ficou com cara de tacho e nunca mais fará isso.

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domingo, 7 de novembro de 2010

Minhas férias

Eu me lembro que muitas das minhas redações na escola primária tinham "Minhas férias" como tema. Para ser franco, eu só me lembro delas. Claro que este tipo de redação só faz sentido ser pedida no começou do ano ou após as férias de julho, e portanto eu deveria escrever sobre muitos outros temas ao longo do ano. Mas mesmo assim, elas de alguma forma ficaram gravadas na minha memória.

Hoje em dia, escrevo sobre tanta coisa, mas nunca mais voltei a escrever sobre as minhas férias. Ao invés de uma folha de papel e lápis, o instrumento é o teclado. Escrevo sobre uma justificativa do projeto ter atrasado, do porquê uma determinada solução técnica ser preferível a outra, sobre a análise que foi feita sobre um problema relatado por um cliente, envio propostas de projetos solicitados por clientes, preparo apresentações em Powerpoint, e até escrevo artigos científicos sobre grafos de intervalo. Escrevo e-mails para meus amigos sobre futilidades e, naturalmente, as postagens do blog. Mas nunca mais voltei a escrever sobre as minhas férias. Por que será?!

Ah, claro, o motivo é óbvio... eu não tenho mais férias.

Tocando neste assunto...

Há alguns anos, quando me mudei para o Rio, fiquei hospedado por algum tempo em um hotel, até me estabelecer na cidade. Depois de um mês hospedado, já enturmado com os funcionários do hotel, um senhor que trabalhava por lá me disse algo interessante:

-- Estou neste ramo deste moço, então deve imaginar quantos anos faz. Mas hoje em dia não é muito divertido trabalhar em hotel... os hóspedes vêm, ficam uma semana, saindo cedo e voltando tarde todo dia e sempre muito ocupados, e vão embora. Quando a gente está se acostumando com os rostos, muda tudo. Bom era antigamente! Os hóspedes vinham, ficavam um mês, traziam a família toda, conversavam, era muito mais divertido.

Eu não disse nada na época, mas hoje penso que deveria ser mais divertido para os hóspedes também.



terça-feira, 2 de novembro de 2010

Aulas de canto

Nada na minha vida foi mais vergonhoso do que a minha primeira aula de canto. Ou melhor, poucas coisas foram.

Há algum tempo atrás, sobrou um tempo durante a semana e resolvi me matricular numa aula de canto. Cantar bem sempre foi de minha vontade, ainda mais porque gosto de música, toco violão, enfim. Quando digo que toco violão, não imaginem que sou realmente bom. É que como consigo cantar ainda pior, então a aula de canto foi priorizada. O pessoal lá de casa e meus vizinhos deram a maior força (naturalmente).

Na primeira aula, quando cheguei, tinha uma garota cantando sendo acompanhada no piano pela professora. Gostei da música, da técnica, da voz afinada, e então pensei: "Legal! Depois de muito exercício, devo chegar lá!".

Aí depois foi a vez de uma senhora. Cantava muito também! Descobri mais tarde que ela cantava em alguns lugares (embora nunca descobri onde exatamente), o que parcialmente explicava a boa voz dado que ela era a mais novata por lá, depois de mim que acabara de entrar.

Aí foi outro, outro, outro, até que a professora disse:

-- Muito bem, agora é a vez do Fabiano. Que música vai cantar?"

Gelei. Estava esperando fazer uns exercícios, um lá-lá-lá antes, no máximo cantar em grupo. Depois de uns dez meses, quem sabe, ensaiar a primeira estrofe, de luz apagada para ninguém me ver. Cantar deste jeito na primeira aula definitivamente não estava nos meus planos.

Pelo menos o pessoal foi bacana. Ninguém riu, cutucou o amigo, ou fez gozação. Pelo menos, não enquanto eu os olhava, preocupado. A professora andou a escala musical de dó a si para achar o meu tom. Coitada, quando achava, tinha que procurar de novo, pois eu já estava em outro. Sobrevivi. Mas que foi uma vergonha, ah... isto foi.

Tocando neste assunto...

Resolvi me gravar tocando violão e cantando, para dar uma verificada. E não é que aquelas aulas me valeram? Cheguei a gostar do resultado. Claro que não ao ponto de mostrar publicamente o som, mas passou pela auto-crítica. Eu tive que sair das aulas meses depois pois o tempo me sumiu, como eu esperava.

Aliás, encontrei a professora estes dias. Situação constrangedora, pois tive que explicar porque saí, etc. Constrangedora pois, como abandonei as aulas, poderia parecer que eu não estava gostando delas. Outra vergonha, mas pelo menos desta vez ela não poderia me pedir para cantar -- o que já estava de bom tamanho.

O mundo era perfeito

Quando eu era criança, eu achava que o mundo era perfeito. Não que eu tivesse nascido em berço de ouro, muito pelo contrário. E nem que eu t...