quarta-feira, 8 de junho de 2011

Jogo de cintura é importante, mesmo que não seja para dançar

Não há situação embaraçosa que não possa ser resolvida com um bom jogo de cintura. Pelo menos, é o que aprendi observando alguns exemplos. O caso do meu amigo Diego é simples, mas interessante.

Uma amiga minha trabalhava numa destas empresas que organiza aplicação de provas em massa, isto é, provas que são aplicadas simultaneamente em várias cidades e, em cada cidade, potencialmente em diversos pontos. O cliente principal deste tipo de serviço é o governo, que precisa organizar concursos públicos, vestibulares, etc. É claro que o fator de preocupação fundamental neste tipo de evento é manter a integridade da aplicação da prova, evitando-se qualquer espécie de fraude. Neste propósito, a idoneidade dos fiscais de provas é de suma importância. Exatamente por isso, a política desta empresa é fornecer os cargos de fiscais  apenas aos funcionários e aqueles por eles indicados (pessoal externo é necessário dado que nem se todos os funcionários da empresa fossem fiscais daria conta de uma aplicação de concurso público federal, por exemplo). Para ajudar esta minha amiga, e sem ter nada planejado para o próximo domingo de manhã, me comprometi a ser um fiscal de uma prova de vestibular.

O Diego era um cara bacana. Morava comigo, em república. Tinha mil e uma ocupações. Chegou a trabalhar no comitê do Pan. Era diretor da empresa-júnior da faculdade. Era consultor de vendas. O único problema, pelo menos no meu ponto de vista, era que todos estes empregos dele eram estágios não-remunerados. Ele trabalhava numa espécie de obra beneficente aos capitalistas. Não sei se ele percebia, mas esta era uma causa de ele estar sempre na pindaíba. Como ele era um cara de confiança, pedi à minha amiga para indicá-lo como fiscal. Por um pouco de tempo do domingo, ganhava-se uma grana razoável. Fui logo avisando a ele que se tratava de um emprego remunerado -- para o caso em que ele tivesse algo contra por princípio -- mas ele prontamente aceitou o convite.

Lembro que o Diego ficou meio preocupado com a atribuição. Perguntou-me mil vezes como era o procedimento. Deixo um candidato ir ao banheiro? Deixo ficarem com celular em cima da mesa? Devo abrir o pacote da prova ou pedir alguém que o faça? Devo ficar com a identidade de cada um retida durante a prova? Devo circular pela sala ou isto atrapalha a concentração do pessoal? O nervosismo dele aumentou ainda mais quando ele soube que tínhamos sido atribuídos a salas distintas.

Chegou o dia, fomos juntos até o local da prova. De lá, cada um partiu para sua sala. Depois da prova nos encontramos na saída e, durante o caminho para o almoço, ele me contou a experiência dele.

"Cara, você não sabe o que eu fiz. Eu já tinha conferido isto, aquilo, e mais aquilo outro, quando chegaram os formulários de respostas [aqueles nos quais os candidatos marcam o X para cada questão]. Abri o pacote e distribuí uma folha de respostas para cada candidato. Feito isto, me dirigi ao quadro-negro da sala e anotei de giz "Hora de Início: 08h03; Hora de Término: 12h03" e, voltando-me para a turma, ordenei: "Podem começar."

Ninguém agiu freneticamente para começar logo a prova, como eu esperei que fosse acontecer. Ao contrário, ficaram me olhando, meio sem entender o que deveriam fazer. Eu insisti: "Boa prova! Podem começar."

A indiferença geral se manteve. Alguém finalmente se manifestou:

-- E a prova? Onde ela está?

Só aí eu notei o vacilo: eu só tinha recebido os cartões de resposta. A prova ainda não tinha chegado."

Eu imaginei logo a cara de tacho que ele deve ter feito. E a situação embaraçosa que ele deve ter ficado, ainda mais ele que estava todo preocupado em não transparecer que era fiscal de primeira viagem.

-- E então, o que você fez? -- perguntei-lhe, curioso.

Ele disse:

-- Eu disse de bate-pronto: "Estou falando por enquanto somente com aqueles que não estudaram e terão que chutar mesmo. Boa sorte!"

Boa saída, não?

Tocando neste assunto...

Outro dia, um amigo de trabalho foi chamado pelo chefe. Ele -- o chefe -- estava preocupado com a concorrência.

-- Fulano -- indagou o chefe -- o concorrente afirma que o sistema deles garante 99.9% de disponibilidade. A gente consegue isto??

Trabalhamos com desenvolvimento de software. Nesta área, garantir uma boa taxa de disponibilidade é fundamental. Todo mundo já deve ter se irritado com um atendente informando: "Senhor, infelizmente eu não poderei atendê-lo pois o meu sistema está fora do ar". Garantir um índice de 99.9% de disponibilidade (haja o que houver, o sistema deve funcionar em 99.9% das vezes) é tarefa bastante árdua. O que responder ao chefe?

O meu amigo respondeu assim:

-- Atualmente não temos este índice. Mas se quisermos, é fácil: a gente desliga os servidores de vez em quando.

O mundo era perfeito

Quando eu era criança, eu achava que o mundo era perfeito. Não que eu tivesse nascido em berço de ouro, muito pelo contrário. E nem que eu t...