A minha primeira briga foi por volta dos doze anos. Calma, eu sou um cara pacífico. Deixe-me explicar melhor.
Quando criança, eu adorava aqueles desenhos japoneses, cheios de lutas, espadas, tiros, etc. Depois de quebrar a cama do meu pai umas duas vezes de tanto pular nela e socar sem querer o espelho do quarto dele, meus pais decidiram me matricular numa escolha de artes marciais, para eu gastar minha energia por lá. Aliás, este incidente de socar o espelho calhou de ser útil. Acabei cortando a minha mão e arrancando uma pequena verruga que eu tinha na base do dedo. Os médicos teimavam em dizer que não adiantaria removê-la, pois ela voltaria. Mas ela não voltou. Talvez eles não estivessem considerando a hipótese de removê-la com um espelho quebrado.
Quando meu pai me deu a notícia, fiquei super animado! Queria fazer caratê, por causa dos filmes do Daniel Sam. Comecei a imaginar se o meu futuro treinador seria parecido fisicamente com o senhor Miyagi. Mas as coisas aconteceram de forma um pouco diferente do filme.
Primeiro, a única turma que aceitou minha matricula no meio do semestre foi a turma de judô. Quando soube que não era caratê, dei uma desanimada. Mas depois descobri que usavam kimono da mesma forma, e aí achei que estava tudo na mesma família e que, portanto, estaria de bom tamanho. A segunda coisa foi descobrir que o meu treinador estava longe de ser um velhinho estilo senhor Miyagi. Ao contrário, o cara tinha uns trinta e poucos anos e media 2 metros por 2 metros. Tendo o porte físico dele, nem precisava saber judô para entrar numa briga.
No dia da primeira aula, me troquei no vestiário, coloquei o kimono e quando ia entrando, o assistente me perguntou sobre a faixa.
-- Que faixa?!, perguntei.
-- Ora, a faixa branca! Você não pode entrar sem uma faixa! Você precisava comprá-la em separado. Deixa eu ver se tenho uma faixa aqui para te emprestar por hoje..... hmmmm... branca eu não tenho... bom, use esta verde pelo menos para prender o kimono.
Quando cheguei na aula, o pessoal estava todo em aquecimento e eu entrei meio atrasado, por causa do imprevisto da falta de faixa. Depois do aquecimento, o professor reuniu todo mundo em cícculo, ajoelhados no tatami. E começou:
-- Bem pessoal, hoje temos um aluno novo, o Fabiano. Poderia se levantar para que todos o conheçam, Fabiano?
Fiquei de pé. Ele então continuou:
-- Fulano, faça uma luta com ele. Vamos ver o estilo dele.
Vocês já perceberam o que ocorreu: vendo a minha faixa verde, ele escolheu um outro faixa verde para lutar comigo. O tal Fulano se levantou, me cumprimentou daquela forma oriental de se curvar para o adversário e veio para o meu lado.
O cara ficou rodeando de longe, balançando o corpo, e dava uns botes tentando segurar o meu kimono. Teve uma hora, que ele chegou tão perto, que eu quase dei um soco nele. Eu não sabia que no judô soco não é permitido como no caratê. Se eu tivesse feito isto, teria sido um fora e tanto. Seria como começar uma luta de boxe e um deles tirar uma arma e atirar. Mas o fato é que eu não sabia nada sobre judô e todos achavam que eu sabia! Como ele ficava ciscando, tentanto me segurar, achei que eu devia fazer o mesmo. Em determinado momento, ele partiu para cima, agarrou minha roupa e eu agarrei a dele.
Aí começou um balança daqui, um passa a perna para derrubar, um empurra-empurra, e eu lá, firme, igual prego em bananeira. Tentava fazer igual. Mas uma hora não teve jeito: ele me deu um puxão, virou o quadril e meu jogou por cima. Eu caí de costas no tatami.
Pensei comigo: "Acabou a luta, ele ganhou!". Que nada! O cara caiu em cima, ficava segurando o meu pescoço, de forma que eu não conseguia ma mexer. E eu fiquei ali, parado, sem saber o que fazer, só preocupado se o cara ia me sufocar. O professor achando estranho, me perguntou:
-- Fabiano, o que foi?! Não vai tentar sair da imobilização? Se machucou?!
-- Não professor... argh... peraí, tá difícil falar... é que eu não sei o que fazer, devo tentar tirar este cara de cima?!?! (eu já estava planejando dar uma joelhada nas costas dele. o que tão pouco vale no judô).
-- Você é faixa verde e não sabe o que fazer ?!?!
-- Não, eu sou branca. É que eu não trouxe a minha, e aí o seu assistente me emprestou uma que estava lá dentro, e...
-- Pára tudo!!
Aí ele acabou a luta e entendeu a confusão. E foi assim a minha primeira luta.
Tocando neste assunto...
Um pouco mais tarde, tive o gostinho de estar do outro lado da mesa e receber "calorosamente" um colega recém-chegado, servindo de primeiro lutador de "reconhecimento". O cara era faixa cinza e eu também era. Antes de começar a luta, juro que pensei: "só falta o cara ter esquecido a faixa preta dele e o assistente ter emprestado uma cinza que estava por lá!..." Se fosse o caso, o negócio comigo era pessoal.
O mundo era perfeito
Quando eu era criança, eu achava que o mundo era perfeito. Não que eu tivesse nascido em berço de ouro, muito pelo contrário. E nem que eu t...
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