Quando estava à beira dos dezoito anos, a maioridade foi algo muito esperado! Pensando agora, não consigo justificar exatamente o porquê. Tirar a carteira de motorista pode ser considerado um bom motivo, sem dúvidas. Mas este benefício, em si, não se sustenta, dado que eu não tinha carro naquela época e estava longe disso. Todos os motivos que me vêm a cabeça eram desproporcionalmente menores em relação ao meu desejo de chegar logo na maioridade. No fundo, acho que não passava de uma sensação de que a liberdade completa estava chegando -- muito embora, paradoxalmente, é justamente na maioridade que alguém pode ser preso.
De repente, então, me dei conta de algo: eu não tinha preparado ainda uma assinatura. Assinatura que nada, tinha até um nome pomposo: uma rubrica! Não podia ser qualquer uma. A candidata tinha que me tornar imponente (atenção à leitura desta palavra -- eu mesmo levei um susto durante a revisão do texto). Deveria ser cheia de contornos, que iam muito acima e muito abaixo da linha que demarcava o local da rubrica. Tinha que resumir o nome de maneira elegante, como um logo pessoal. Em resumo, deveria ser digna de ser colocada num contrato de suma importância! Não que eu tivesse algo deste porte para assinar -- quando muito, assinava a folha de presença na escola. Naturalmente, eu me preocupava na verdade com a conseqüência da escolha a longo-prazo. Como alguém pode assinar um documento que muda o curso da humanidade simplesmente com o nome por extenso em letra cursiva? Impossível. Seria como um comandante do BOPE que tem voz fina: não combina.
Levei semanas rabiscando as últimas páginas do caderno. Nada dava certo. Quando ficava boa, eu não conseguia reproduzir. Quando conseguia, ainda tinha que melhorar um bocado para chegar a ser boa. Se ainda houvesse Internet fácil naquele tempo, eu poderia tentar buscar "+rubrica +sensacional +exemplos" no Google Imagens.
Resultado: acabei fazendo uma assinatura na carteira de identidade que mais parece uma pichação. Tenho vergonha de mostrá-la a quem quer que seja. Certa vez, dei graças por ter perdido a identidade, pois assim teria que providenciar a segunda via. Infelizmente, acharam e me devolveram. Sei que devem estar pensando: "Ué, e por quê você não joga fora esta e tira a segunda via?". A resposta é simples: até hoje rabisco as últimas folhas dos meus cadernos -- ainda sem resultados.
Tocando neste assunto...
Estes dias, mais uma vez, passei constrangimento com a bendita. Não precisei assinar nenhum documento que mudará a história da humanidade (exceto se, por humanidade, entende-se somente eu mesmo). Precisei asssinar um documento importante referente a minha defesa de tese que está por acontecer. O auxiliar administrativo disse:
-- Por favor, faça a assinatura igual a da identidade.
Puxa vida, eu não poderia perpetuar este erro mais! Tomei uma atitude: retirei a minha identidade da carteira e mostrei para o camarada:
-- Tudo bem! Fazer igual esta aqui?
Ele olhou, pensou, e disse:
-- Pode ser por extenso mesmo. Com esta aí, podem pensar que a coisa não é séria.
Salvo pelo bom senso.
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