quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Nem só de X vive a Matemática...

Faz muito tempo que não leio uma Super Interessante. Há muitos e muitos anos atrás, quando eu era ainda um adolescente (para o meu próprio bem, era melhor não ter dito que isso foi há tantos anos assim), existia nesta revista uma coluna chamada "Dois mais Dois" escrita pelo professor Luiz Barco. Ela era ótima, só aquela coluna valia o preço da revista! O Luiz Barco escrevia problemas de matemática de uma maneira tão divertida e encantadora que me fez querer ser professor de Matemática. Se não fosse a paixão pela Computação, isto com certeza teria se tornado realidade. Mais tarde, não sei como conseguiram convencer a Abril de lançar uma revista INTEIRA só com problemas lógicos e matemáticos. Esta revista se chamava Super Jogos. Infelizmente não passou de uma meia dúzia de exemplares. Afinal, quem se interessa por matemática? Infelizmente, poucos.

Lembro de um artigo desta revista, escrito pelo professor Luiz Barco entitulado "Nem só de X vive a matemática...", no qual descrevia um caso, que até hoje não sei se foi real, de um professor que lançou a seguinte pergunta aos alunos:

"Uma mãe visitou os três filhos carregando uma certa quantidade de ovos de chocolate numa cesta. Ao primeiro, ela deu metade do que tinha mais meio ovo. Ao segundo, ela deu a metade do que restou mais meio ovo. Finalmente, ao terceiro ela novamente deu metade do que restou mais meio ovo, ficando sem nenhum. Quantos ovos esta mãe inicialmente possuía?"

Para um versado em matemática, o problema era simples: seja X o número de ovos inicialmente na cesta desta mãe. Logo, a resolução da equação de 1.o grau  ((X/2 - 1/2)/2 - 1/2)/2 - 1/2 = 0 fornece a solução do problema. Equivalentemente, pode-se encontrar a solução da equação (X/2 + 1/2) + (X/2 - 1/2)/2 + 1/2 + ((X/2 - 1/2)/2 - 1/2)/2 + 1/2 = X. Ou seja, tendo uma boa sexta série primária qualquer um resolve este problema.

A surpresa do professor que propôs este problema foi que, antes que o CDF da turna chegasse á uma conclusão, um garoto mais novo que estava por perto respondeu depois de pensar um pouco: "Ela tinha 7 ovos."

"Correto!" Exclamou o professor. "Palpite certeiro."

"Não é palpite professor", retrucou o garoto, "raciocine comigo, de trás para frente: se ela deu metade do que restou dos ovos depois de dar a quantia devida ao segundo filho, mais meio ovo, e ficou sem nada, é porque esta metade era exatamente meio ovo, ou jamais ela teria dado mais meio ovo e ficado sem nada. Logo, ela chegou no terceiro filho com exatamente um ovo. Da mesma maneira, se ela deu metade do que restou dos ovos depois de dar a quantia devida ao primeiro filho, mais meio ovo ficando com um ovo, é porque esta metade era exatamente ovo e meio, ou jamais ela teria dado mais meio ovo e ficado com um único. Logo, ela chegou no segundo filho com exatamente três ovos. Finalmente, se ela deu metade do que tinha inicialmente de ovos mais meio ovo ficando com três ovos, é porque esta metade era exatamente três ovos e meio, ou jamais ela teria dado mais meio ovo e ficado com três. Logo, ela tinha inicialmente sete ovos."

Conclusão: o professor Luiz Barco escolheu muito bem o título deste artigo!

Tocando neste assunto...

É engraçado como é a vida. Muitos anos mais tarde fiz graduação na Unicamp. Depois de sair de lá, descobri que o professor Luiz Barco era professor de Economia de lá. E eu perdi a oportunidade de conhecê-lo! Espero voltar lá para pegar meu autógrafo.

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